Saturday, July 11, 2009

Camisas.

Era tarde e Joe Note Book andava apresado. Não era um encontro, era um avistamento. O cara poderia estar lá. Dia após dia, tarde após tarde. Em dias ruins, chuva, vento, frio, nunca ia, nos outros quase sempre. Nunca com a mesma camisa. Mês após mês. Quatorze meses e três dias.

Começou como serviço avulso. Seguir pessoas. Fazer relatório, receber. Sumir um tempo. Um dia, dois, três, uma semana. Nunca mais que isso. Ai, esse cara. Esse serviço. Dez dias após o cara aparecer dois dias seguidos com a mesma camisa deverá enviar uma mensagem para determinado endereço eletrônico. Simples e fácil. Há um ano e dois meses.

Antes vivia como queria e agora uma rotina miserável porque pulha tem todas as camisas do mundo disponíveis, dia após dia. Nada se sabe sobre quando não vai. Rotina miserável, cotidianamente miserável, equipamento pesado, especializado e dedicado. Era verão, veio outono, depois inverno, primavera e os estilos mudando. As capas escondendo a camisa. O telescópio. O note book sempre anotando a descrição da camisa da vez. Foto detalhada. Absolutamente todos os dias. Absolutamente lá durante quatro horas. Era verão. Um parque pareceu bom. Longe das vistas, das marquises, abrigos em caso de chuva. Café, só da térmica. A miséria que só esperava no inferno.

O pagamento semanal e pontual como já não gostaria que fosse. Fosse, aliás, possível qualquer contato, desfaria o trato. Era um emprego maçante, torturante. Considerava deixar de ir. Mas quem seriam seus contratantes? Que importância teria sua parte no esquema, fosse qual fosse? Qual o preço da falha? Se o cara morresse? Se o matasse?

Se o matasse? Essa idéia foi tomando corpo.