Wednesday, April 26, 2006

A Síndrome da Primeira Página.



Quando conseguir reunir número significativo de incoerências, terei escrito mais um livro. É essa a idéia da coisa. Escritores expõem seus pensamentos. É o que farei, mas não sou coerente. Tramas surgem e desaparecem sem ranço inspirado. Sem significados ocultos outros que algum sub texto mais elegante e pretensioso. Os todo-amados trocadilhos em farta e ao enfaro. Está valendo qualquer recurso para continuar com tua atenção presa até que me lembre o que tencionava escrever, mesmo que seja uma bobagem das grandes. O que até prefiro.

Levo sobre ti a enorme vantagem de que existe tempo entre um parágrafo e outro. Em compensação, não me respeitas e interrompes quando entendes. Premências do mundo exterior onde existo como referência por um ou outro papo mais absurdo, um dito mais estúpido, um comportamento social agudamente estranho. Essas coisas. Tu então... existes como pretensão minha.

Investindo bem sério nesse lance de me portar socialmente de forma adequada, obter algum proveito em companhias, agrado em novos conhecimentos, tenho reparado que a maioria mente. Ninguém sabe realmente do que está falando. O ouvir dizer gera entendimentos pervertidos e até cruéis. Todos pretendem saber algo importante, de preferência escandaloso, da hora: a síndrome da primeira página.

Em suas próprias áreas de interesse profissional são, alguns, excelências, mas teimam em falar o que não sabem ou opinar estupidamente baseados em qualquer linha de abastecimento logístico de argumentos que, via de regra, tem origem na interpretação já distorcida que um ou outro cronista tem de um determinado fato, dentro de um contexto geral que é deformado ou simplesmente omitido.

Hermann Hesse chamava esse nosso tempo de “época folhetinesca” em “o jogo das contas de vidro”. Qualquer um opina sobre qualquer coisa, entendendo ou não.

Por exemplo, eu. Não entendo picas de política. Alguns podem e se orgulham em estar como arautos de uma farsa onde a catarse se dá através da queima do dinheiro da platéia. Para mim, tornar a participar disso, está fora de questão. Dentro ou fora do picadeiro. Mas adoraria dar palpite e como senhor absoluto e inquestionável do próximo parágrafo, vou arriscar um.

A copa do mundo será o momento político mais importante do ano. O que acontecer durante a copa vai determinar se o Lula segue ou não. E não vai ter nada a ver com o resultado dela, é só que as atenções estarão nela. Qualquer armação vai passar batida, porém... pode ser que não. De toda maneira, que bom assunto para uma mesa de bar.

Sunday, April 09, 2006

O Inimigo Interno.

Essa deve agradar a gregos e goianos. Trata-se de um ridículo que, como não é teu, vai ser só divertido: “a mais alta manifestação da dor estética consiste essencialmente na alegria”. Li isso e guardei, não lembro de quem, talvez Novalis. Então é isso, volto, mais afeito a provocar uns sorrisos algo doloridos.

Dúvidas a respeito de afetos e do que os motiva é humano e comum. Não creio que irracionais as tenham. Uma vez estabelecido o laço afetivo ele jamais será posto em dúvida enquanto a situação não exigir. Como esses bichos não raciocinam, não ficam inventando coisas.

Isso chamou minha a atenção porque no distúrbio bi-polar essa área é profundamente atingida. O cara, e creiam que eu sei e me confesso, não consegue ter certeza se quem está com ele não o faz por alguma vantagem, não está só “se aproveitando” como todos os outros que já anteriormente provaram isso.

Em algum lugar já falei que os mais chegados são os mais atingidos, os mais feridos, os mais ofendidos. E é óbvio. É deles, pela proximidade, que o mundo (quando mau e cruel) se usa para massacrar, magoar, atingir, ferir, ofender. Mas nunca de maneira direta como ele faz, são insidiosos, fingem, atuam até em conjunto. Como o bi-polar já chateou tanto os amigos anteriores que estes tiveram de se afastar para não levar mais porradas (no ponto de vista deles, e com toda injustiça, agressões gratuitas) está provado que todos são traidores. Esse, todos, e mais os que virão.

O mundo de um louco é povoado por si mesmo. Existem ali as pessoas que justificam perfeitamente seu comportamento.

Em geral o bi-polar tem defensivamente o maior orgulho de desprezar a opinião dos outros. Eles podem não gostar de mim, até lhe ofereço motivo... Depois se auto-explica: eu sabia que esse cara só queria se aproveitar... joguei na cara dele e se ofendeu... Pura burrice, loucura extremada! Faz isso normalmente, mas identificará em outros o mesmo procedimento delirante com absoluta nitidez.

É perfeitamente claro que a uma insinuação destas, mesmo um aproveitador vai reagir mal, pior ainda os injustiçados e isso fecha o círculo vicioso que, SE a fase maníaca não resultar em prejuízo material perceptível, a vítima vai esconder. Não só as fase maníacas, vai esconder que vive tenso e orgulhosamente sobrevivendo a própria paranóia num ambiente que ele mesmo se esforçou por tornar especialmente insalubre.
O bi-polar comumente interpreta o sintoma maior da doença como inspiração, um barato pessoal do qual não vai abrir mão: estar empolgado (afinal não é isso o que todos queremos?). Se o fizer na presença de alguém vai sentir-se humilhado por ter tido essa "fraqueza" (esqueci de dizer que para esconder uma sensibilidade a flor da pele, desenvolvi um cinismo exacerbado do qual gosto e que não me abandonou com o tratamento. Aliás, só tive vantagens em todas as frentes).

Mas voltando ao cara que não se aceita. Qualquer sugestão de tratamento ou de existência do distúrbio é, se a situação social o permitir, ridicularizada. Vai mentir, vai proteger a possibilidade de ser quem gosta porque isso não faz mal. É, em grande parte dos casos, muito inteligente. Se não bebe até cair nem joga dinheiro para cima. É normal.

A sacanagem é que muitas vezes o barato maníaco é o exercício descontrolado de um prazer, o maior deles: se sentir o máximo. Nesse ponto entra o raciocínio mais corrosivo de todos: se sou feliz assim não vou me privar disso, os outros que se fodam.

Mas tem detalhes. Primeiro que a situação “inspirado” existe independente da fase maníaca e é mais freqüente e mais produtiva. Pude perceber isso porque no meu caso o achar que podia fazer tudo resultava em dano materiais, pessoais ou não, gravíssimos. Não poderia continuar, a possibilidade de cura (apenas em função dos prejuízos, esclareço) me alegrou, ansiava por algo que fosse efetivo. Ainda assim, inconscientemente me sabotei várias vezes deixando de tomar a medicação, coisa compreensível dado o prêmio enorme que é o sintoma mais evidente da doença o delírio de “sentir-se capaz”. Nada contra isso, mas o sentir-me capaz também incluía beber. Não esperava não perder nada ou ficar tão melhor, queria apenas não morrer bebendo.

Wednesday, April 05, 2006

Delírios.

Do momento em que levantei para estar aqui escrevendo, atendi às inúmeras solicitações que qualquer ato requer, nessas o assunto original costuma desaparecer. Mas desta vez resultou o suficiente para recuperar a linha geral do delírio.

Sim. Rejubile-se. Optei pelo delírio mais ou menos livre. Se isso não interessa, pelo menos diverte. Uma curtição típica de aeroportos. Como fico deste lado da linha de produção dos acontecimentos, não tens nem o trabalho de pensar a bobagem, faço isso por ti. Embora a desordem em meus pensamentos, conversando face a face certamente o resultado total da comunicação, a um nível de troca de idéias, seria pior do que esse que resulta de tua mudez inescapável. Tu não podes me interromper, nem mesmo para concordar. Tu só podes parar de ler. Mas em querendo conversar...

Aqueles diálogos de romance... Impossíveis. E o fio da meada foi-se. Mas volto a insistir que sentei aqui com um propósito específico e tinha algo que pareceu intimamente ligado a nossa percepção das coisas. Algo que ligava o cosmo ao arroz com lingüiça cuja ingestão vou providenciar agora. Não estava ótimo, mas alimenta igual.

Espécies ocupam seu nicho ecológico através do número de indivíduos até um limite que “eras” regulam. Grande parte, senão a maioria das convulsões social resultou em sistemas que permitiram alimentar mais gente, procriar mais, mais rapidamente, mais eficientemente. O próximo drible no ajuste será criar gente em confinamento. Conforme técnicas desenvolvidas no século passado, melhor que entrem no estábulo sorrindo. Vendo tv será melhor ainda. Transferência de renda cheira a isso, democracia implica nisso.