Friday, July 28, 2006

Anotações sobre o Deus Posterior

Um Deus Posterior. Por que não?
Isso deveria ser colocado na agenda da comunidade científica, bem assim como foi dito: trazer à luz alguém com bondade, sabedoria e poderes superiores, para salvar da morte aquilo que se originou de vapor d'água, metano, amônia e hidrogênio: os aminoácidos primitivos, que ganharam a capacidade de se locomover e destruir o berço que os pariu. Talvez o item bondade nem seja necessário e, possivelmente, atrapalharia a missão. Certo que haveria rebeliões, insufladas pelos 4 cavaleiros do apocalipse. Na matrix haveria de se colocar também o mapa do caminho pelo qual o rebanho será conduzido. Porém, não há sentido em chegar; o caminho teria de ser infinito.

Thursday, July 27, 2006

O Deus Posterior.

Como estava falando outro dia, tenho absoluta certeza que a única forma de realmente trocar idéias, conversar, é por escrito. O sub-texto dos gestos deixa muito a desejar por demasiado sujeito ao falso e, no entanto, é largamente usado como o principal para o entendimento do que se fala ao vivo e a cores. Líquido, certo, morto e cinza.

Situações se conjuram e encontros sociais se tornam possíveis e cada um deles é uma história particular. Nunca nos encontramos, mas pelo menos um ambiente social freqüentamos. Um onde é possível conversar enquanto a dor nas costas permitir. Isso me lembra de não forçar. Continuo amanhã.

Mas falava sobre os encontros sociais. É bom manter uma certa coerência e, depois de várias taças de café, inúmeros cigarros e um teórico desjejum (que este escrever posterga) é até possível. Mas mais coerente é sobreviver, então é preciso comer. O conjunto dos gestos necessário para a confecção do sanduíche já me daria assunto para muitas páginas. Para começar, sair da cadeira. Ir ao banheiro já está a se tornar imperioso, aproveitarei a interrupção para realizar a alimentação. Em diferentes ambientes. Passos e mais passos. O ruído da descarga lembrando que tem de abrir o registro para encher a caixa d’água e mais... e mais...

Lembrei que não tem pão. Assim: uma constatação. Já não me enfureço com meu Alzaimher. A hora, que sempre corre quando escrevo, informa que o pão é desnecessário. Usualmente não almoço com pão. Mas é só um outro problema. Diário. Alimentação.

A vida precisa de matéria. A matéria é o substrato da vida. A matéria precisa de energia. A energia é o substrato da matéria. A vida é o substrato de quê? Julgo eu que da consciência, daquela que falam as mais altas manifestações do budismo.

Também nessa linha, mas bem mais amarga é a constatação óbvia de que a existência de nações, razão das maiores selvagerias, serviu maravilhosamente ao desenvolvimento da espécie. Durante um tempo deu à humanidade um competidor na exata altura. Mas já começa a não servir mais.

A única forma de controlar-se a proliferação exagerada e prejudicial é um comando único. Nenhuma tribo vai permitir que a outra seja mais poderosa, numerosa ou o que seja. Haverá um poder hegemônico sem a menor sombra de dúvida. Ou isso ou a espécie esgota o planeta.

Não é necessariamente terrível ou sombrio, mas será catastrófico com absoluta certeza. Mais delírio: aquilo que se baseia na vida - a consciência - dá tanto valor a vida quanto nós a matéria. É tudo a mesma coisa. Só tem que continuar existindo e servindo. Interessa aos “quantos”, não aos “quais”. Na onda budista é possível alcançar fazer parte desta consciência.

Impossível continuar escrevendo.

Já refeito dos efeitos diuréticos do café, alimentado e já percorrida a tarde em inúmeros não fazeres, voltei. Entre uma e outra coisa que não tinha de fazer, mas acabei por fazer, disso alijando o amanhã, alucinei por outros ângulos do problema humano.

Considerado o disponível tecnologicamente quanto a conforto e segurança física, nada há a desejar (esquecendo outros devaneios de vida eterna e saúde perfeita). Não se fala da distribuição disso, não é possível e nunca o será já nos níveis atuais de população. Do bem bom pra todo mundo já não é possível e, pior que isso, o meio ambiente deteriora a olhos vistos para todos agora, já, na cara de todos. Ninguém gosta de falar nisso e nem é do interesse da casta dominante que o resto se dê conta disso.

Já lá no outro delírio anterior: pode que esta consciência, que se apoiaria na vida como esta evidentemente se apóia matéria, precise só de espécies conscientes e tecnologicamente capazes. Surge quando estas espécies aparecem. E também evolui. O Deus Posterior. Não criou a vida, veio depois. Precisa só que existamos, os assuntos dela são outros. Como nós sobre a matéria, também aprende a manipular seu suporte da melhor forma para ela, não para nós. Somos só vida.

Tuesday, July 25, 2006

Palavras

Escrever é bom, porque as palavras não fogem.
Quer dizer, às vezes elas fogem. Aí, escrever é ruim.
Mas não por muito tempo, porque é fácil parar de ver as palavras fugirem.
Basta deixar os dedos quietinhos. Então, as palavras vêm (de curiosas) ver o que se passa e... ZAP! A gente pega e gruda elas por dentro do monitor.
Palavras grudadas ficam paradinhas e não fogem mais.
Parecem mortas. Algumas até estão, mas não todas.
Palavra morta é triste.
Palavra paradinha que tá viva é diferente. Ela fica ali, como quem não quer nada, se fazendo de morta, até que ZAP!, prende o pensamento de alguém.
Às vezes não solta nunca mais.
Noutras, se distrai e aí quem foge é o pensamento.

Saturday, July 22, 2006

Assuntos.



Não achei título melhor e esse texto vai diferente, faço antes. É comum. Muito mais o escrever me dita que dirijo a cena. Bem como delirar numas quaisquer. Em vez de estar discutindo com o patrão coisas que nunca vai ter sequer a possibilidade de falar, tal a dimensão da não realidade em que a maioria dos “ditos” pensamentos transcorre, a criatura poderia estar escrevendo e erguer o próprio patíbulo enviando por carta. Depois tenta salvar algum processando o patrão ou publicando como estudo sociológico.

A maior parte da vida cotidiana, por calma que seja, se passa num ambiente que para a maioria dos observadores, mesmo urbanos, é de uma mesmice enganadora. Se cada um examinar seus pensamentos enquanto os está tendo (e é possível, tu sabes que estás lendo e que estás lendo a mim e etc e tal*), no ato de responder ao quitandeiro com a ladainha de sempre, mas pensando cada vez coisa diferente, vai verificar imensa riqueza de detalhes e em se dando conta disso aumentar essa cota. Podendo inclusive se massacrar com muito mais preocupações.

Antes que esqueça definitivamente o que é o asterisco, é o seguinte: podemos assistir o que estamos pensando, mas isso se dá ( tenho essa impressão ) através da intervenção de um controlador que interrompe o fluir, bom ou nefasto, e o considera. Acredito que tornar essas interrupções o mais freqüentes possível seja o que essa montanha de livros de auto-ajuda quer dizer com “tornar-se consciente”. É simples e não tem picas com parapiscologia, holismo, metafisicismo ou que tais. Sendo que deste último adjetivo só sei que Adibharma o tinha e isso segundo Augusto dos Anjos, que eu mesmo não conheço nenhum dos dois. Nem metafisicismo nem Adibharma.

E, retomando, esse tal controlador, em se dando conta da barbaridade que se está pensando, pode escolher continuar nela ou carregar outro assunto. Qualquer o assunto imaginado, qualquer a solução, o circo que se deseje, as coisas sempre se realizam de outra maneira. A maioria das vezes, nem sempre, pensar, quando não é concentrado num problema específico e de variáveis claramente conhecidas, é inútil, cansativo e, como tal, prejudicial. Um saco. Olhar é muito melhor.

Monday, July 17, 2006

Atalaia II



Demos um jeito na porta com alguns pregos prendendo a tranca da fechadura. O marco da porta ficou destroçado pelo arrombamento. Comer algo. Queijo cozido na brasa de latas de muito antigamente qualquer coisa e cerveja. Carnaval rolando em volta. Duas pessoas por metro quadrado por quilômetros de praia e dezenas de trios elétricos e bares, todos com o som a milhão. Perto de qualquer deles se entendia alguma coisa, mas a concentração de bêbados por metro aumentava insuportavelmente. Cantores atiravam camisinhas na platéia, a farta. Impossível fazer qualquer coisa que não entrar na onda.

É para baixo? Estou nessa.

A farra só amainou uma semana depois. Culpa do Carnaval. Naquele tempo a ressaca ainda era suportável. Comecei a conhecer o terreno, a firma que tinha contratado a informatização da prefeitura. Um aplique nojento gerenciado por um crápula que, entre outras coisas explorava a própria família num restaurante onde a mãe era cozinheira e os irmãos o restante do pessoal. Todos por casa e comida que, afinal, tinha montado o negócio para que eles pudessem viver, mas o lucro era dele. Contou como “o” samaritano.

Cheguei com o barco andando, máquina instalada e o sistema quase pronto. Entrei com uma proposta de aditamento do contrato com a prefeitura para aumentar o dreno, mas não rolou. Ajudei muito pouco. Era vez do Mano trabalhar e alguém tinha de tratar da gênese das confusões que em seu tempo eram o fito, a essência da Coluna Merdas. Foi a primeira experiência de viver na praia. Trago liberado e tempo para exercer o talento em encher a cara e aprontar merda. Eu, o galego irmão do gaúcho, fazendo picas, patrocinando cerveja, cheio de prostituta bonita pra namorar.

Mais na lida da sede que da fome, estive em orgias que não lembro, fiquei noivo várias vezes (uma gravemente, de uma menina filha de uma família de feirantes em Feira de Santana, menor de idade e doidinha por um galego-look nos filhos). Mas os desastres de pouca monta foram bem divertidos e às suturas necessárias hoje falta a dor associada. Dá para brincar de contar e eu gosto.

Saturday, July 15, 2006

Atalaia.





É praia, é mar e não é civilizado. O ar limpo, azul alvejante, um sol mortífero. Carnaval. Acabavam trinta e seis horas de ônibus São Paulo – Aracajú. Eu um destroço fedido, mal dormido e fugindo de São Paulo. Táxi. Casa do Mano. Praia de Atalaia. Oito da manhã.

Segundo piso. Campainha. O mano inteiramente nu, borracho tresnoitado, tendo atrás de si, na sala, quatro casais enovelados e também nus, encontrando um motivo excelente para continuar na faina da orgia. A Gel chega do quarto, também nua e me beija. Vestem-se e saímos para a Toca do Coelho, um quiosque na areia. Nove e pouco. Vodka e cerveja. Não vou longe e tenho de dormir. O apartamento é enorme, na sala já não há ninguém. Meio dia e já tem trio elétrico na praia. O bar Calango, ao lado já tá na função. Apago bebaço e com comprimidos.

Acordo sendo coberto de porradas pelo Mano que tendo saído para beber mais, na volta encontra a porta arrombada. Gritos, confusão, a Gel grudada nele, não entendi nada. Mas algo faz barulho na cozinha. O ladrão voltava para buscar mais. Mais pancadaria, desta vez no meliante. Apanhei porque o Mano, ensandecido pelo trago, pensou que eu havia arrombado a porta para sair, mas estava dentro. Depois mais carnaval, uma coisa. Há um tempo de beber e um tempo de se arrepender disso, mas o melhor é verificar que escapei e contar é divertido.

Wednesday, July 12, 2006

Coisa de Fila.

Não afirmo que este ou aquele assunto são meus preferidos porque posso escrever com total impropriedade sobre qualquer assunto e isso diverte a mim e a ti por igual, apenas de diferentes maneiras. Posso até ter pensado nisso numa fila, mas agora não estou lá e tu podes estar. Azar o teu. Ou quase isso. Fila só é chato se alguma angústia te acossa. Fora isso e incômodos posicionais que até podem ser usados como exercícios, fila pode ser um lugar útil. Mas claro que não para aquele merda que passa a reclamar de tudo como se para tudo tivesse solução e sua intervenção tornasse a ambiente melhor.

O argumento de que tem que expressar o descontentamento vem bater em cheio com um pesado: burrice pensar que melhor atendimento, por muito melhor que seja, vai resolver e que um dia filas não existam mais. Que loucura é essa? Quem tão burro? As cidades por implosão inespecífica ficarão menos populosas?

Uma incontrariável pressão impulsiona os acontecimentos importantes na evolução de qualquer espécie: o aumento do número de indivíduos até o possível no nicho ecológico considerado. Tal o tal equilíbrio da natureza. Lentíssimo no ajuste. Nós temos séculos, ela tem eras. Sem um mecanismo de ajuste as contas serão feitas na marra e até que a espécie aprenda, os sobreviventes, se possíveis, viverão dos restos da tentativa anterior. Sorte sermos da primeira leva. Para nós a Terra ainda é bonita. Mas já foi mais e o aumento indispensável da produção de energia e alimentos não vai reverter o processo.

Para elevar o padrão de vida de todos até a média, considerado o nível de consumo europeu, já seriam precisos 2,1 planetas. A solução virá, mas a se concretizarem as tendências totalitárias de hoje, será necessariamente canalha, drástica e estúpida.