Wednesday, March 17, 2010

Beterrabas Inferênciais.

Estava ali, descascando-as e não resisti. Vim prá cá. Foram tantas as inferências e os simbolismos aderidos ao gesto que resolvi descrevê-los e assim os esqueci. E não estou mais lá rindo de mim mesmo e de outros por diferentes, mas mesmos motivos. De mim por descascar beterrabas, conquanto seja muito mais fácil ordenar que me sejam servidas, lindas, num prato que não irei lavar.

Também verdade que são fáceis de fazer quando o processo está no final, no bulbo beterrábico. Antes, na formação da comidinha, são no mínimo meses de cuidados e esperanças de que chova e de que não chova, de que as formigas não sejam tantas e quantidade de coisas não exatamente aleatórias se concretizem em tempos aceitáveis para vegetal daquela cor ou de qualquer outra.

Então: o trabalho humano envolvido na beterraba que eu estava divertidamente descascando tem de ser a resultante de uma maluquice matemática qualquer que, em algum momento, envolverá teu tempo e o meu. Eu escrevendo e tu lendo sobre isso.

Transformar o mundo em algo tão confortável quanto é para nós, os sobrenadantes, mesmo considerando os “classe PT”, é grotescamente caro.

Isso uma batata, uma beterraba, já a complexidade de uma lixa de unha pode envolver a exploração de trabalho escravo na China.

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